Trump Poderia Cortar o Sinal de GPS do Brasil?

Por Vandi Dogado 

Recentemente, circula uma afirmação alarmante segundo a qual o Brasil estaria prestes a ficar sem sinal de internet devido a uma possível ação do ex-presidente norte-americano Donald Trump em "cortar o sinal de GPS" para o país. Tal afirmação, embora revestida de aparente gravidade, exige um exame mais detalhado e racional antes de ser aceita como verdadeira.

A importância do GPS (Global Positioning System) na sociedade contemporânea é, sem dúvida, incontestável. Este sistema, desenvolvido originalmente para propósitos militares pelos Estados Unidos, hoje permeia quase todos os aspectos da vida cotidiana moderna: transporte, comunicação, agricultura, bancos, e muitos outros setores essenciais. Tornou-se, assim, parte integrante da infraestrutura civil global. Todavia, sugerir que o Brasil ficaria desprovido de tais benefícios caso os Estados Unidos bloqueassem o acesso ao GPS é manifestamente equivocado.

De fato, o Brasil não possui satélites próprios dedicados exclusivamente ao posicionamento global. O país utiliza-se de diversos sistemas internacionais simultaneamente, o que garante ampla redundância e segurança operacional. Além do GPS norte-americano, há o GLONASS russo, o Galileo europeu e o BeiDou chinês. Estes sistemas, todos plenamente operacionais em território brasileiro, oferecem cobertura suficiente para manter intacta a infraestrutura nacional de posicionamento e navegação, ainda que o sinal americano sofresse interferências ou fosse interrompido.

Além disso, é importante destacar que o sinal do GPS norte-americano é aberto e gratuito globalmente, sendo utilizado inclusive por países que sofrem embargos econômicos impostos pelos Estados Unidos. Mesmo que o Brasil dependesse exclusivamente deste sistema, é altamente improvável que o sinal fosse bloqueado intencionalmente. Tal medida prejudicaria empresas americanas e brasileiras envolvidas em intenso comércio bilateral, tornando-se, dessa forma, economicamente inviável e contrária aos próprios interesses dos Estados Unidos.

Assim sendo, a ideia de um apagão tecnológico generalizado é desprovida de base factual e lógica. Na prática, qualquer restrição imposta pelos Estados Unidos ao sistema GPS poderia ser contornada imediatamente pelos demais sistemas mencionados. Assim sendo, a afirmação alarmista carece de sustentação racional.

Entretanto, é prudente reconhecer que a dependência brasileira em relação a tecnologias estrangeiras levanta questões significativas acerca da soberania tecnológica e digital do país. Assim como a autonomia política, a autonomia tecnológica é uma condição indispensável para qualquer nação que deseje manter independência e segurança em tempos de crises ou tensões internacionais.

O Brasil faria bem, em considerar com seriedade o desenvolvimento de um sistema próprio de posicionamento global ou, no mínimo, ampliar suas cooperações estratégicas com parceiros internacionais para garantir maior segurança digital. A dependência exclusiva de sistemas externos, mesmo diversificados, inevitavelmente traz vulnerabilidades potenciais que uma política prudente deveria antecipar e prevenir.

Por fim, é necessário rejeitar claramente as afirmações exageradas e infundadas que espalham alarmismo sem base racional. Ao mesmo tempo, é importante refletir criticamente sobre a importância estratégica da soberania tecnológica para o futuro do país. Como sempre ocorre, a verdade encontra-se numa compreensão equilibrada e racional dos fatos, evitando extremos emocionais ou afirmações sensacionalistas.


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