Rodopio

 

Por Vandi Dogado A arte da leitura, como sabiamente apontou Carlos Drummond de Andrade, é uma fonte inesgotável de prazer, embora muitos ainda não tenham descoberto essa sedutora sede. Mergulhar nas páginas de um livro não é apenas uma jornada de entretenimento; é um caminho para a liberdade intelectual e emocional. Este artigo explora as multifacetadas vantagens do hábito da leitura, um hábito que vai muito além do mero passatempo. A leitura é uma atividade transformadora, capaz de expandir horizontes e abrir novas portas para o conhecimento e a compreensão do mundo. Neurocientistas têm demonstrado que a leitura estimula a neurogênese, ou seja, o nascimento de novas células cerebrais como axônios, dendritos e neurônios. Isso significa que, ao nos perdermos em uma boa história, estamos, na verdade, aprimorando a agilidade e eficiência do nosso cérebro. Esta atividade cerebral incrementada se traduz em benefícios tangíveis, como clareza na visão de mundo, expansão do vocabulário, aprimo

Por Vandi Dogado No encantador dia 15 de abril de 2022, tive a oportunidade de assistir a uma produção artística memorável: a ópera "Os Capuletos e os Montéquios". Esta obra fascinante, uma adaptação não do famoso romance de William Shakespeare, mas da peça teatral de Luigi Scevola de 1818, fez sua estreia triunfal em 1830 no renomado Teatro La Fenice, em Veneza. Desde então, esta magnífica obra tem cativado plateias por décadas, e tive a sorte de ser um dos espectadores recentes, profundamente tocado pela performance. Ao longo deste espetáculo, o que mais me impressionou foi a maestria com que os músicos e atores transmitiram a essência da história. O desempenho não se limitou à pura habilidade técnica, mas revelou camadas de significado nas entrelinhas da trama. A habilidade deles em capturar e transmitir as nuances da narrativa foi nada menos que extraordinária. Um aspecto notável desta ópera foi a sua abordagem sutil, porém poderosa, de temas sociais contemporâneos. A pro

Por Vandi Dogado Todos se afastam até que sintam o toque de seu beijo frio. Ela é uma professora inigualável na arte de ensinar a importância do amor e da compaixão humana, pois com sua chegada, a arrogância, a vaidade, o orgulho e o egoísmo se desvanecem. Ó implacável Mestra, por que sua dura realidade nos faz valorizar o presente? Por que sua abordagem direta é frequentemente mal interpretada, e suas dolorosas lições são tão difíceis de assimilar? Será que um dia, na Terra, as pessoas aprenderão a valorizar mais o amor do que o incessante anseio por poder ilusório e bens materiais? Tentar compreender suas ações, que levam vidas e abrem portas para dimensões desconhecidas, é um exercício fútil para aqueles que ficaram para trás. Os primeiros dias sem um ente querido são repletos de lembranças compartilhadas, sensações táteis, aromas, sons e imagens vívidas, todos brotando de nossas mentes confusas. A incompreensão da perda traz uma dor profunda no peito, um vazio existencial persisten

Por Vandi Dogado Existe um debate acerca de quem teria escrito o primeiro romance da história, mas uma possibilidade fascinante e inspiradora aponta para uma mulher, uma realização notável, considerando especialmente o contexto histórico. Murasaki Shibiku, uma nobre japonesa do século XI, desafiou as normas de sua época, onde mulheres eram frequentemente proibidas de ler, e criou uma obra literária que reverbera até hoje. Sua obra-prima, “A História de Genji”, escrita em 1007, é uma narrativa envolvente que acompanha as andanças de um príncipe em sua busca por amor e sabedoria. O fato de que uma mulher em uma sociedade predominantemente machista tenha conseguido produzir tal marco literário é um testemunho da resiliência e genialidade feminina. Esta obra não é apenas um clássico da literatura japonesa, mas também é considerada um dos pilares da literatura mundial. Harold Bloom, um renomado crítico literário, reconheceu a magnitude de Murasaki, colocando-a entre os cem maiores gênios li

Por Vandi Dogado Fernando Pessoa, o notável escritor português, tinha uma visão peculiar sobre a poesia e a arte da escrita. Ele afirmava: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente.” Essas palavras nos levam a ponderar: se considerarmos que fingir é um ato de engano, será o poeta, então, um habilidoso mentiroso? É essencial distinguir entre as mentiras prejudiciais e aquelas que encontramos na literatura. Enquanto as primeiras são condenáveis por causarem dano, as 'mentiras' na literatura abrem portas para um mundo rico em imaginação e emoção, contribuindo positivamente para a experiência dos leitores. Um exemplo intrigante dessa dinâmica é o caso do poeta brasileiro Manuel Bandeira. Influenciado pelas ideias de Pessoa, Bandeira levou a noção de 'fingir' ao extremo, chegando a inventar uma história sobre si. Ele afirmou que, aos dez anos, encontrou-se com Machado de Assis e recitou um trecho extenso de “Os Lus

Por Vandi Dogado No universo da escrita, um dos temas mais debatidos é o temido bloqueio criativo. Escritores de todas as eras enfrentaram períodos de falta de inspiração, questionando-se sobre como iniciar ou continuar uma obra literária. Contudo, minha visão sobre esse fenômeno é bastante diferente da concepção tradicional. Afirmo categoricamente: o bloqueio criativo, como muitos o imaginam, não existe! A ideia de que algo bloqueie magicamente o fluxo de ideias é um mito. Na realidade, o que afeta a criação artística são fatores mais terrenos e concretos, como cansaço, estresse, problemas digestivos, preocupações e outros elementos psicológicos e físicos. É importante destacar que a tranquilidade excessiva nem sempre é necessária para a escrita criativa. Muitos autores produzem suas melhores obras em estados de inquietação ou indignação, impulsionados por alguma injustiça. Portanto, não se trata de buscar um ambiente perfeito de calma, mas sim de encontrar condições intelectuais adeq

Por Vandi Dogado Você acredita que já viu de tudo? Em uma revelação surpreendente e um tanto quanto perturbadora, a prestigiada Universidade de Harvard divulgou a existência de um livro em sua coleção cuja capa é feita de pele humana. Esta descoberta, que desafia nossa compreensão do convencional, levanta questões intrigantes e até arrepiantes sobre sua origem e a história por trás dela. A história começa com a obra "Des destinées de l'ame" ("Os destinos da alma"), escrita no século 19 pelo francês Arsène Houssaye. O anúncio desta descoberta peculiar foi feito no blog da biblioteca Houghton de Harvard. Alan Puglia, especialista em conservação de livros raros da universidade, e sua equipe chegaram à conclusão de que a capa do livro é, com 99% de certeza, feita de pele humana. Esta certeza foi alcançada através de técnicas modernas que identificam proteínas específicas nos materiais, uma abordagem que une a precisão científica com o estudo histórico. A jornada des

Por Vandi Dogado Em 2015, tive o privilégio de encontrar-me com o renomado autor Ignácio Loyola Brandão, cuja presença foi extremamente agradável. Tive a oportunidade de presentear-lhe com meu livro "O Templo de Aiakos" e, em retribuição, ele me brindou com suas histórias encantadoras, tão prazerosas quanto as narrativas em suas obras. Uma história em particular capturou minha atenção: durante seus anos escolares, Loyola muitas vezes se sentia isolado e sem amigos, enquanto seus colegas namoravam. Sentindo-se sozinho, ele se voltou para o mundo da fantasia e se apaixonou pela Branca de Neve. No entanto, Loyola ficava incomodado com a maneira como os sete anões tratavam ela. Quando sua professora solicitou que ele escrevesse uma história sobre Branca de Neve, ele usou sua criatividade para vingar-se dos anões, eliminando-os cruelmente. Esse ato de imaginação fez com que ele ganhasse respeito e admiração de seus colegas, alterando como era visto por eles. Esse episódio foi deci

Por Vandi Dogado Para que serve a arte? Esta é uma pergunta que ecoa através dos tempos, desafiando uma resposta definitiva, pois a arte, em sua essência, é uma experiência profundamente pessoal e subjetiva. Cada indivíduo interage com o mundo artístico de maneira única, moldada por suas vivências, emoções e percepções. É raro encontrar alguém que não se sinta tocado por alguma forma de arte. A música, por exemplo, é um elemento onipresente na vida humana, permeando nosso cotidiano com ritmos e melodias que ressoam em diferentes contextos, da celebração à introspecção. Ela talvez seja a expressão artística mais universalmente apreciada, capaz de transcender barreiras culturais e linguísticas. Além da música, outras formas de arte - como a Literatura, a Escultura, a Pintura, a Dança e a Dramaturgia - são manifestações diversificadas da criatividade humana, cada uma oferecendo um prisma particular através do qual enxergamos e interpretamos o mundo. Estas artes, existentes há milhares de

  Por Vandi Dogado Luiz Puntel nasceu em Guaxupé, Minas Gerais. Ainda pequeno, mudou-se para Ribeirão Preto, onde reside até hoje. Formou-se em Letras e é diretor da Oficina Literária Puntel, escola de Redação para Ensino Fundamental, Médio e Superior. É também conferencista e professor de Oratória. Escreveu livros juvenis para a Editora Ática. Vandi Dogado - O Senhor é professor de Língua Portuguesa e escritor, como faz para conciliar os dois ofícios? Luiz Puntel - Na verdade, escrever, no Brasil, não é considerado profissão, uma vez que escrever não dá o retorno financeiro necessário. Mas é difícil conciliar o professor, profissão que toma muito tempo, já que estou sempre em sala de aula. Os livros que escrevi sempre foram feitos a partir de diminuta disponibilidade temporal. Mas acho importante escrever, ao possibilitar levar a alunos do Ensino Fundamental e Médio a discussão dos problemas sociais brasileiros. Vandi Dogado - Há algum livro do senhor que considere especial? Luiz Pun

Por Vandi Dogado "O comprometimento é o que transforma a promessa em realidade." Esta poderosa afirmação de Tom Chung não é apenas uma máxima inspiradora, mas também a essência de uma negociação bem-sucedida. No dinâmico mundo dos negócios, a diferença entre um acordo medíocre e um extraordinário repousa na habilidade de se comprometer e oferecer o melhor de si em todas as circunstâncias. 1. Solução Mútua: A Chave da Negociação Na arte da negociação, a primeira regra de ouro é entender que ninguém resolverá seus problemas se você não estiver disposto a solucionar os de seu interlocutor. É um jogo de dar e receber, onde ambas as partes devem sair ganhando. 2. A Importância de Propostas Bem-Estruturadas Propostas bem elaboradas e projetos escritos são o coração de qualquer negociação. Eles demonstram profissionalismo e preparo, elementos essenciais para uma negociação bem-sucedida. 3. A Arte de Ler o Ambiente Compreender o ambiente, a linguagem corporal e as características psi

Por Vandi Dogado A ciência contemporânea está às portas de uma revolução, especialmente no campo da neurociência e da tecnologia. Pesquisadores e cientistas mergulham nas profundezas do cérebro humano, esforçando-se não apenas para entender, mas também para manipular suas intrincadas funcionalidades. Este campo promissor abre caminho para possibilidades que, até então, estavam confinadas ao âmbito da ficção científica. Os cientistas do Centro de Genética de Circuito Neural do Instituto de Tecnologia Riken-Massachusetts, situando-se na vanguarda dessa pesquisa, anunciaram um avanço notável: a capacidade de implantar memórias falsas em camundongos. Divulgado na edição de 26 de julho da revista "Science", o estudo demonstrou como os pesquisadores induziram camundongos a se lembrarem de ter recebido um choque elétrico em um local diferente do real. Este feito, descrito por Steve Ramirez, um dos neurocientistas envolvidos, como a combinação de diferentes tipos de recordações, marc

POR VANDI DOGADO É comum associar uma noite de excessos alcoólicos a decisões pouco sábias, mas estudos recentes do Reino Unido e dos Estados Unidos apresentam uma perspectiva surpreendente: um maior consumo de álcool pode estar ligado à superinteligência. Esta afirmação, que parece desafiar as normas do politicamente correto, se baseia em pesquisas realizadas no National Child Development Study (Reino Unido) e no National Longitudinal Study of Adolescent Health (EUA). Nessas pesquisas, crianças e adolescentes foram avaliados até os 16 anos e classificados em categorias cognitivas – termos politicamente incorretos, mas usados em nome da ciência – que variam de "muito burro" a "muito esperto". Os estudos acompanharam os hábitos desses indivíduos por anos a fio: as crianças americanas foram monitoradas por sete anos e as inglesas até os 40 anos. Uma descoberta notável foi que aqueles classificados como mais inteligentes tendiam a beber mais frequentemente e em quantid

POR EDVAL LOURENÇO - REVISTA  BULA   Antes que falemos de Literatura, há um fator precedente que é oportuno mencionar, especialmente por ocasião do Dia Internacional do Livro. A Literatura, antes mesmo das inscrições rupestres, já existia em sua forma oral. É fácil imaginar o Homo sapiens, ainda na era das cavernas, no fim do dia, ao redor do fogo, narrando suas façanhas de caçador. Certamente aquele que tivesse a melhor estratégia narrativa acabava por angariar vantagens competitivas naquela civilização incipiente. Poderia exercer algum posto de liderança e comando, reivindicar os melhores glebas de caça, reservar para si as mulheres mais saudáveis e gerar as proles mais bem sucedidas. É razoável supor que pela prevalência do mais apto, somos descendentes de uma linhagem de trogloditas contadores de histórias.